RaceBrazil

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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Nérsin, que merda

O Momento e o olhar

Não chamo mais o Nérsin de emo-angêlo (o acento circunflexo é no e mesmo), pois não tem graça mais, o divertido de apelidos é quando apenas incomodam, mas não machucam, se machucar não tem graça alguma, é apenas malvadeza. Acredito que atualmente receber esse tratamento deva machucar muito, não apenas o Nérsin, mas também os que o cercam e isso não me interessa.

Esse rapaz se meteu com a ajuda de pessoas mais velhas e supostamente experientes no maior escândalo que a Fórmula 1 viveu em sua história. Transformaram em pouco tempo a elite do automobilismo em um Programa do Ratinho na TV, evidentemente com os meios de comunicação, inclusive e principalmente, os sites e blogs da internet bombando e fazendo estardalhaço, o que é do game, normal.

Resumidamente, Nérsin, Briatore e Symonds da Renault resolveram que o piloto bateria o carro de propósito no GP de Cingapura de 2008 para permitir que o bi-campeão Fernando Alonso ganhasse a corrida como realmente ganhou. Na época, o fato foi encarado com estranheza, mas isso sempre fez parte.

Briatore é conhecido como uma espécie de mafioso, até aí nada de novo, Symonds um engenheiro competente e veterano da antiga Toleman, a depois Benetton e atual Renault, sempre sob a influência do Briatore, mas no fundo um peixinho. Nesse período, a equipe sob nomes diferentes ganhou quatro títulos, com Schumacher e com Alonso, os do primeiro cercados de polêmicas e maracutaias. Do outro lado Nelson Ângelo Piquet, um piloto que gera algumas dúvidas a respeito de sua capacidade mesmo antes de estar na F1. Correu sempre em equipes próprias montadas pelo pai contra equipes de menor poderio financeiro e alguns rumores de testes secretos e proibidos na F3 Sul Americana, fato que gerou um incidente em Fortaleza onde até puxada de revolver houve. Como contorno, o tri-campeão pai do piloto Nelson Ângelo, outra pessoa polêmica sempre querendo fazer espertezas e brincadeiras, algumas de péssimo gosto. Em resumo, um belíssimo elenco para dar muito certo ou dar merda. Acabou dando merda, mas não é sobre isso que quero falar aqui. Os paladinos da honestidade, dos bons costumes, os cumpridores das leis, ou seja, os Torquemada da vida já estão dando veredictos sumários e definitivos sobre este ou aquele personagem ou sobre todos. Longe de querer defender ou atacar quem quer que seja, seria apenas mais um a brandir códigos, leis e bíblias como as beatas ensandecidas ou os beatos Salús costumam fazer.

O que me interessa nesses acontecimentos é analisar os momentos do comportamento humano, o drama ou a comédia da situação, os gestos de amor e de ódio, de admiração ou indiferença, enfim, tudo que seja subjetivo e sujeito a interpretações e exercícios opiniáticos. Para isso o cérebro existe, não vejo desafio algum aplicar leis e códigos, isso é coisa de meirinhos, além de ser exercício inútil.

Vi um vídeo no youtube muito interessante e sobre ele que quero falar. Trata-se da comemoração da vitória da Renault no referido GP de Cingapura. No filme podem ser vistas as expressões da vitória, os gritos e emoções, mas também alguns pequenos segundos de uma enorme tristeza e isso por parte do garoto piloto. Certamente um mimado inconseqüente, sequer pensou nas conseqüências de seus atos, poderia ter matado uma criança do público ou colocado em risco outro piloto, mas não é isso o que aparece. No segundo 44 do filme se vê o menino, mas menino mesmo, não um rapaz de 24 anos, olhando para o Briatore e eles acabam tocando as mãos. Pode-se ver a tristeza e a vergonha no olhar dele, era o único que estava com vergonha de comemorar, pode-se dizer que era o único honesto naquele bacanal de pilantras, a maioria inocente no episódio, mas pilantra do mesmo jeito. Sinceramente, acho que o menino subiu no meu conceito, praticou o ato, mas pelo menos teve vergonha de comemorar e ainda deu um olhar para o Briatore como quem diz, fiz o que você queria, está contente? Pode-se ver claramente dentro do menino, ele está totalmente aberto, triste e sincero nas suas emoções, realmente ninguém é totalmente ruim ou bom, vivemos nossas circunstâncias. O olhar mostra carência tal qual um cachorrinho querendo o reconhecimento do dono. O Briatore se aproveitou da carência e da juventude do garoto para sugar-lhe a alma, mas no final não conseguiu fazê-lo por completo, o diabo é esperto, mas nem tudo pode.

Para mim o filme e especificamente esse trecho, mostra que o Briatore sabia de tudo e mandou fazer, podem não haver provas, mas também não há dúvidas. O que nos remete ao comportamento do Briatore depois. Um bom mafioso costuma cumprir o combinado e ser agradecido por favores prestados, é do negócio e considero que o Briatore, pelo sucesso material que teve na vida, deva ter cumprido esse papel muito bem ao longo da carreira. Por que mandou embora o garoto em um ato de extrema ingratidão incompatível com seu modus operandi mafioso? Aí tem. Acho que o Briatore estava sendo pressionado para fazer cumprir a cláusula de desempenho do contrato, ou seja, quem demitiu o piloto não deve ter sido o Briatore, mas alguém mais em cima ou do lado, tipo assessor jurídico, controller ou coisa que o valha. Geralmente essa asponeria se atém a filigranas contratuais para fustigar os poderosos, é a ditadura do pequeno burocrata, muito comum em grandes organizações. No final, os Piquets podem ter detonado o cara errado.

O resto, a espera de um ano, a chantagem alegada, a carta de demissão boba e finalmente a confissão detonadora não importam, nada muda aquele momento triste que esse menino irá carregar para o resto da vida.

Como também não importa a insinuação sobre o piloto feita pelo Briatore, afinal, ninguém tem nada a ver com isso e em nada afeta a habilidade de guiar um carro de fórmula 1, não? A alegada relação, não sabida e inadequada, com um homem mais velho é apenas isso, não sabida e se não sabida indefinida, desconhecida, quem interpretou foram os jornalistas. Evidentemente, o Briatore sabia dessa característica dos jornalistas e foi bem prudente na colocação, mas ao mesmo tempo disse exatamente o suficiente para gerar a maledicência. A relação inadequada pode ser desde ciumeira paterna descabida, má influência do tipo arrastar o garoto para putaria, drogas, álcool, proselitismo comunista, fascista ou mesmo religioso, sabe-se lá o que era, na maioria dos casos não é nada.

O que fica é a emoção, o drama da situação e poder saber que mesmo um garoto mal criado, mimado e influenciado por cínicos de tudo quanto é lado consegue sofrer quando faz besteira e mostrar que tem consciência do certo e do errado. Ele é o único que ainda merece atenção e respeito como ser humano, o resto, Briatore, Symonds, pai et caterva não passam de velhos cínicos, já morreram e não sabem, sequer conseguem ter algum tipo de ato de remissão. Esse é o maior castigo, não passam de zumbis vivendo a vida dos outros e arrumando barracos que nem próprios conseguem ser. Velho é uma merda mesmo. Como não conseguem sentir, ficam fazendo vinganças uns contra os outros e arrastando a criançada nesse vampirismo lamentável.

E o espanholito? Está onde sempre esteve, não sabe de nada, não viu nada, mas foi o maior beneficiado do imbróglio, um sem vergonha juramentado. Ainda tem o Max, esse teve sua vingancinha sobre o Briatore antes de deixar a Fia e o Bernie ficou no muro como sempre.

O que fazer com o Nérsin? Compreender e defender sempre, mas aceitar nunca, é melhor ele ir fazer outras coisas e arrumar melhores companhias.

O filme: http://www.youtube.com/watch?v=dZrCVbU6pWQ&feature=player_embedded#t=46

Os Fabulosos do Faster gravaram um programa Brandes, Lafontaine e Zullino, o BLZ, no dia do Grande Prêmio de Cingapura em 2008 e deixamos claríssimo para quem quisesse ouvir que a Renault fez maracutaia na corrida. Quem quiser ouvir.

primeiro bloco: http://www.f1total.com.br/audio/blzsin2008_1.mp3

segundo bloco: http://www.f1total.com.br/audio/blzsin2008_2.mp3

Link para a página com todos os programas: http://www.f1total.net/modules.php?name=Audio